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Desnorte | Crítica | João Morales | Time Out Lisboa

 

Dentro de Ti Ver O MarDesnorte – Contos
de Inês Pedrosa
Edição portuguesa: 194 páginas,
Publicações Dom Quixote
PVP: 14,90 euros

 

Um eixo fundamental destes contos é a noção de perda – o vazio, a ausência - que está patente na realidade e nas circunstâncias daqueles que os habitam. E há outros elos, que reflectem e reforçam a unidade. Se "As Curvas do Tempo" questiona a possibilidade de intervir no passado, em "As Mais Altas Coisas" lemos como "em cada escolha eliminamos um feixe de possibilidades". Um desabafo do narrador de "Suzana" ("é isso que mais me custa, na amizade à distância: deixar de trocar pormenores") vem à memória em "As Mais Altas Coisas", quando lemos que "os amigos partilham interesses e fazem favores, sim – mas os interesses e os favores não podem ser os andaimes dessa obra de arte que é a amizade".
Neste livro há jornalistas (sempre homens), referências literárias (explicitas e veladas), amores trágicos ou desencontrados, algumas "bicadas" irónicas ("depois de despedido, voltou à terra e tornou-se Doutor").
Frank Sinatra fala para Amália Rodrigues: quartos de um hotel acolhem recordações e os seus habitantes durante um encontro literário, em Fevereiro. Talvez na Póvoa de Varzim, quiçá ("quase tudo o que aprendeu vinha dali, daquela corrente desenhada por si, ano a ano"). Juntas as pontas, podem apontar para um livro de balanços, uma espécie de Conta-Corrente (em ano de centenário de Vergilio Ferreira).
Em dois dos textos, "Mar Aberto" e "As Mais Altas Coisas" há um clima de fantasia no desenlace, curiosamente, em ambos os casos personificado num regresso feminino. Coincidência? Na arquitectura da ficção, consciente ou inconscientemente, não costumam abundar.

João Morales, Time Out Lisboa 16-22 Março de 2016

 

 

 
 
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