 Desamparo – Romance
de Inês Pedrosa
Edição portuguesa: 320 páginas, Dom Quixote.
Edição brasileira: 296, Leya
Edição croata: 208, OceanMore
Ao falar do último romance de Inês Pedrosa, Desamparo, da D. Quixote, tudo começa num pequeno mapa de uma costa onde se destaca a Praia das Raposas e, no interior, Arrifes, Termas do Rei, Lagar e Bombarda. «Os pássaros desistiram de voar. Na aldeia de Arrifes, concelho de Lagar, milenar dote de princesas e rainhas, nada se move. A carrinha do Centro Social já fez o seu turno, pelas nove da manhã (…)». Do que se trata é da história de uma mulher que foi levada do colo da mãe para o Brasil aos três anos de idade e regressa para a conhecer, mais de cinquenta anos depois. «No bojo do avião, seguia comigo, rumo a Portugal, uma pequena arca com travessas de porcelana, baixelas chinesas, toalhas rendadas e talheres trabalhados, resquícios de um tempo em que pude apreciar coisas belas.» Clarice Lispector, na Descoberta do Mundo, ensina-nos o caminho: «Agora eu conheço o grande susto de estar viva, tendo como único amparo exactamente o desamparo de estar viva». Este o mote usado por Inês Pedrosa.
É de uma saga que se trata. A mãe começa por ser uma sombra que não resiste à doença ou à velhice. Como é diferente Portugal visto de longe e agora encontrado no regresso. Quantas recordações. «Clarisse diz que nos falta perder o medo de nos perdermos. Os cromos da televisão repetem todos os dias à hora do jantar que estamos a pagar o preço de termos vivido acima das nossas possibilidades. Mentem, para terem a certeza de que permaneceremos quietos, amedrontados. O medo mantém-nos abaixo das nossas possibilidades». Amor, traição, poder, inveja, ciúme, amizade, crime, medo, vingança e morte. É Portugal em carne-viva, com rezas a pedir o euromilhões. Mas Alice sabe que o torno do mundo volta a rodar.
As Sugestões de Guilherme d'Oliveira Martins, in "Ensaio Geral" revista radiofónica de cultura da Rádio Renascença da autoria de Maria João Costa, edição de 07/03/2015
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